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20 de Abril de 2024
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    “Uma moeda depreciada é boa para a economia”

    há 10 anos

    Os bancos centrais atuais estão praticando aquilo que os economistas chamam de "desvalorizações competitivas", cada um se esforçando para depreciar mais sua moeda em relação a todas as outras. A lógica, segundo os governos, é que a depreciação da moeda — e, consequentemente, da taxa de câmbio — estimula a economia (leia-se, o setor exportador).

    O problema é que tal raciocínio não faz nenhum sentido.

    Se você possui uma determinada moeda, e todos os preços cotados nesta moeda caem, você certamente irá se beneficiar deste arranjo. Você lucraria com ele. Mais ainda: você não teria de pagar nenhum imposto sobre este lucro, pois o lucro não seria na forma de um aumento na sua quantidade de dinheiro; o lucro seria na forma de um aumento na quantidade de bens e serviços que você é capaz de comprar com a mesma quantidade de dinheiro que você possuía antes. Portanto, uma deflação de preços traria um enorme benefício para você.

    Agora, se é benéfico para você portar esta moeda em um momento que os preços dos bens e serviços estão caindo, por que seria ruim para o público em geral do seu país portar esta mesma moeda em um momento em que os preços das moedas estrangeiras estão caindo? Quando a sua moeda se torna capaz de comprar uma quantia cada vez maior de moedas estrangeiras à medida que o tempo passa, está havendo uma deflação de preços para os itens que estão sendo comprados: as moedas estrangeiras. Por que seria desvantajoso para a população deste país ter uma moeda que ganha poder de compra em relação às outras? Por que seria ruim ser usuário desta moeda e por que não seria ruim ser usuário das moedas estrangeiras se são justamente os bancos centrais estrangeiros que estão inflacionando suas moedas?

    Estamos hoje em uma situação em que os bancos centrais de todo o mundo estão expandindo seu processo de aquisição de títulos da dívida de seus respectivos governos. Eles fazem estas aquisições criando dinheiro do nada. É isso que bancos centrais fazem. Logo, há aquilo que se convencionou chamar de 'corrida para o fundo do poço'. Todos os países estão inflacionando para que seus exportadores não sofram com uma moeda apreciada. Todos os governos hoje são mercantilistas.

    No entanto, sabemos que, como indivíduos, utilizar uma moeda que está se valorizando é algo ótimo. O que nos leva à inevitável pergunta: por que é bom para os indivíduos de um país utilizar uma moeda que está se valorizando, mas também é uma boa política ter um banco central expandindo a oferta monetária com o intuito de justamente desvalorizar o valor internacional desta moeda? Parece haver algo errado neste arranjo. Quem o defende parece sofrer de dissonância cognitiva.

    O que é bom para um indivíduo honesto é bom para a nação. Se é bom para um indivíduo ter um moeda que está se valorizando, então é bom para toda uma nação ter uma moeda que está se valorizando. Como é possível dizer que é algo bom para os indivíduos utilizarem uma moeda que está se valorizando e, ao mesmo tempo, dizer que o país deveria instruir seu Banco Central a inflacionar a moeda com o intuito de não permitir que ela se valorize?

    Vivemos em uma era mercantilista. Aquelas grandes empresas voltadas para a exportação querem ver o valor de suas moedas domésticas caindo continuamente. Todas as empresas voltadas para o setor exportador, de todos os países, querem que isso ocorra. Em outras palavras, elas não querem viver um sistema em que os preços são definidos pelo livre mercado. Elas querem que os bancos centrais de seus países intervenham expandindo a oferta monetária de modo a reduzir o valor internacional de sua moeda doméstica. Sendo assim, por essa lógica, o que é bom para indivíduos passa a ser supostamente ruim para toda a nação. Porém, o que é a 'toda a nação' se não o agregado de todos os indivíduos?

    Não há dúvidas de que entramos em uma era de desvalorizações competitivas das moedas domésticas. Historicamente, isto sempre foi chamado de depreciação, mas o termo depreciação é enganoso. Soa como se, da noite para o dia, os burocratas do governo anunciassem uma alteração na taxa de câmbio. No entanto, o que ocorre é que o mercado estabelece o valor de troca de uma moeda por outra. Se os bancos centrais de duas nações inflacionam suas moedas na mesma proporção, a tendência é que aproximadamente a mesma taxa de câmbio se mantenha ao longo do tempo. Porém, em relação aos bens e serviços, as moedas domésticas estão se desvalorizando.

    Sempre que você ouvir alguém dizendo que a moeda do seu país tem de se desvalorizar em relação ao dólar — ou que o dólar tem de encarecer —, você está na presença de um mercantilista. Trata-se de alguém que crê que a inflação monetária — e, portanto, a inflação de preços — é algo bom. Ele pensa assim porque tal medida representa um subsídio ao setor exportador. Porém, deveria ser algo óbvio que, quando partimos da lógica de que aquilo que é bom para o indivíduo é bom para a maioria dos cidadãos do país, uma moeda doméstica em contínua apreciação em relação às moedas estrangeiras é algo positivo. Isso indica que seu banco central não está inflacionando, e que os outros bancos centrais ao redor do mundo é que estão. Significa que seu banco central está sendo mais austero e mantendo a sua moeda mais robusta. E uma moeda robusta é aquela que está se valorizando. Mas não é assim que políticos pensam. E também não é assim que economistas dos bancos centrais pensam.

    Somente exportadores não gostam de uma moeda que está se valorizando. E são muito poucas as pessoas de uma economia que trabalham para exportadores.

    Desvalorizar a moeda de um país é um ato que gera uma redistribuição de riqueza dentro do próprio país. A riqueza é retirada dos setores da economia que não estão ligados à exportação e direcionada para os setores ligados à exportação.

    Adicionalmente, a desvalorização funciona como um subsídio aos compradores estrangeiros. Desvalorizar a moeda de um país é uma bênção para os estrangeiros, pois agora eles poderão importar bens deste país a preços mais baratos. Os estrangeiros poderão agora comprar mais bens com sua moeda, a qual repentinamente se valorizou perante a moeda do país que desvalorizou.

    Sempre que políticos e economistas de seu país disserem que o câmbio tem de se desvalorizar, eles não verdade estão querendo subsidiar os estrangeiros. Com a desvalorização, bens que até então estavam relativamente caros passarão a se tornar uma verdadeira barganha para os estrangeiros — ao menos até que os preços comecem a subir em consequência da desvalorização da moeda.

    No início do processo de desvalorização da moeda, o setor exportador conseguirá comprar fatores de produção a preços que ainda não se alteraram. Com o passar do tempo, a desvalorização da moeda começará a exercer efeitos inflacionários sobre toda a economia, gerando aumento de preços. Neste ponto, o setor exportador será forçado a elevar seus preços. Ato contínuo, é de se esperar que os exportadores clamem por novas rodadas de desvalorização cambial para reiniciar o ciclo e favorecê-los novamente.

    É importante também ressaltar o fato de que, quanto mais bens forem exportados, menor será a oferta destes bens no mercado interno, algo também propício a gerar mais inflação de preços e, consequentemente, um menor padrão de vida.

    É de se lamentar que a maioria das pessoas não entenda de economia. Para os exportadores, no entanto, que se beneficiam deste assalto ao poder de compra da população, essa ignorância econômica de seus compatriotas é uma dádiva. Dado que é impossível ganhar algo a troco de nada, o que ocorre é que um pequeno grupo de exportadores ganha muito e, em troca, o restante das massas fica com preços crescentes para quase todos os bens e serviços da economia.

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    Ora, moeda valorizada levará o indivíduo a viajar para países estrangeiros, ou a buscar a compra de importados. Esse dinheiro, ao invés de gastar com sua pátria, gastará com a do outro (assim, é como se o Brasil estivesse "doando dinheiro para outra potência". Para países de baixa tecnologia, a invasão da indústria estrangeira é predatória para a indústria e produção nacional, levando as últimas para sua falência. Desse jeito, a remessa de lucros fará com que multinacionais estrangeiras (mais tecnológicas) invadam o nosso país, empreguem a nossa mão de obra, usem as nossas riquezas minerais do nosso solo, e depois levem o lucro para as outras potências. Consequência: maior desigualdade econômica entre os países, e maior a disparidade econômica entre os outros países e o Brasil.
    Por esse motivo, a desvalorização da moeda nacional, para desestimular importações que prejudiquem a indústria local e a balança comercial, isso é uma medida econômica favorável! continuar lendo

    Só faltou pensar que o Brasil é um país com uma fraquíssima indústria de tecnologia de ponta (só uma das várias indústrias onde o Brasil depende de IMPORTAÇÕES), tecnologia essa que será importada de qualquer forma pois faz parte de vários bem consumidos por todos nós hoje. Essa importação acontecerá a custos altíssimos. Esse custo é repassado para a população em praticamente todos os setores inclusive. Eu gostaria de entender a lógica do "bom para o país". O brasileiro hoje come ovo, mora no mesmo imóvel velho a 30 anos, e acha que o "bom para o Brasil" é político comendo filé e comprando 50 imóveis bem limpinhos. Bom, eu acho que "bom para o Brasil" é o que é bom para o BRASILEIRO, portanto, maior poder de consumo, maior autonomia de escolha, se quiser comer carne, que coma, se quiser viajar, que viaje. Essa lógica de impedir o brasileiro de viajar ser algo razoável parece mais um argumento pra passar pano pra um problema real que enfrentamos, não acha? continuar lendo

    De fato. Tecnologia é super importante.
    Eu defendo um projeto "ultra-desenvolvimentista", que foca em 3 pontos. Primeiro: Nacionalização de toda e qualquer tecnologia para o fim público. Eliminação de patentes privadas, ou coisa do tipo. Toda tecnologia nacional deve estar nas mãos do Estado, e vale o mesmo para infraestrutura.
    Por quê? É muito simples. Suponhamos um caminho reto entre as cidades: A e B. Evidentemente, não havendo declive, esse é o melhor caminho a se seguir. Agora, imagine que essa estrada seja privada, e cobre preço alto. Então, os caminhões precisam desviar por uma outra, fazendo um caminho mais longo, que é mais custoso, além de ser mais poluente. Perda dupla.
    Toda tecnologia deve estar nas mãos do Estado. Isso também é o melhor para as empresas, posto que reduz as barreiras de entrada, facilitando a instalação de múltiplas empresas, eliminando monopólios (decorrente da barreira de entrada ser alta), e alimentando a maior competitividade de mercado. Da mesma forma, deve-se investir pesados fundos estatais na pesquisa tecno-científica, inovação e desenvolvimento.
    Esse é o primeiro ponto. O segundo são parcerias para obtê-las do estrangeiro. Por exemplo: acordos Joint Venture com empresas estrangeiras, na qual elas usam nossa mão-de-obra bem barata e qualificada, em troca de cederem sua tecnologia para o Estado brasileiro. A única diferença é que, ao contrário da China, não podemos aceitar a poluição. Devemos ter um projeto de diminuição de poluição (ou, no mínimo, que busque reduzir a "desigualdade de poluição" perante países desenvolvidos, isso é, que busque reduzir nossa desigualdade para com eles, ou que busque ampliar nossa vantagem - isso é, sempre um comparativo). Tirando por isso (poluição, que não devemos aceitar, sob hipótese nenhuma), o projeto chinês foi bom. Além de acordos geopolíticas, "jogar duro" na geopolítica internacional etc. O Plano Colombo é um exemplo do que um Estado forte pode fazer, no "tabuleiro de xadrez internacional". Também, de fato, podemos comprar, e investir pesadamente na compra (porém, no caso de matérias-primas ou tecnologia, se formos valorizar a moeda para comprar, então devemos aumentar extremamente a tarifa de importação para o resto, além de um pesado aumento do imposto para consumo nacional, com o objetivo de continuar incentivando exportação e a indústria nacional).
    O terceiro ponto é um foco gigantesco na espionagem. Hacking, satélites de espionagem, uso de animais ou micro-organismos espiões etc. Tudo o que nos permitir espionar, devemos investir pesadamente nisso, e criar um modelo já fortemente voltado para isso, sendo esse o principal enfoque. Um exemplo bem-sucedido desse modelo é a Rússia. Certamente, a Sputnik, sucesso internacional, só deu certo graças a essa estratégia, e elevou o prestígio, honra e reservas internacionais (recursos) da Rússia.
    Esse é o modelo ultra-desenvolvimentista que devemos adotar, que poderia ser resumido no seguinte slogan: "Máquinas! Máquinas! Máquinas!"
    Além do bônus: Proibição da Propaganda Privada. Sim. Literalmente. Para o Estado, "fazer propaganda privada" é idêntico a "Abrir a carteira, pegar as notas de 50, e rasgá-las ao meio". É exatamente isso o que funciona. A propaganda privada é Rasgar Dinheiro, por assim dizer.
    Do contrário, devemos criar um modelo, voltado para pequenas empresas (conselhos de auto-gestão, pequenas cooperativas, ou com forte participação dos trabalhadores nos lucros e decisões das fábricas), que sejam majoritariamente voltadas para o consumo regional-local, usando mão-de-obra local e matéria-prima local (majoritário).
    O Consumo Regional é MARAVILHOSO! Não apenas por uma questão social (maior soberania), mas sim por uma questão Ecológica. É simples: o excesso de circulação de mercadorias e pessoas gera horríveis problemas ecológicos. Um desses, muito atual (cada vez pior) é a implantação de espécies exóticas contra o habitat natural. Na mesma linha, a total incapacidade de conter uma epidemia, que imediatamente vira pandemia. Surge lá num pequeno povoado da Índia e, horas depois, já infectou toda a cidade de Belo Horizonte. Algo péssimo, oriundo desse modelo sujo. Além disso, o excesso de circulação gera muita poluição (poluição do ar, poluição sonora etc), vide, por exemplo, os caminhões, diminuindo também o número de atropelamentos nas pistas, e beneficiando a deixar impacto os corredores naturais de vegetação, cruciais para a biodiversidade.
    Fora que o Consumo Regional irá eliminar O PRINCIPAL malefício desse modelo atual sujo: A Obsolescência Programada. A Obsolescência Programada se trata de uma sabotagem deliberada do consumo, com o objetivo de nos obrigar a nos endividarmos novamente. Além de um péssimo impacto econômico, também há um péssimo impacto Ecológico. Com o consumo regional, isso praticamente será eliminado, posto que nós mesmos estaremos consumindo o que produzimos (majoritariamente), além do maior senso de empatia com o grupo. Irá, assim, destruir esse problema, melhorando os impactos econômicos e ecológicos.
    Por último, para fechar, eu ressalto que na esteira da proibição da propaganda privada (que, além de tudo o que mencionei, reduz o consumismo, aumentando os benefícios econômicos e ecológicos da nação), inclui também o deinchaço do Setor Terciário. O Setor Terciário praticamente consiste em "propaganda disfarçada" (exemplo: ao invés do cliente ir lá, e pegar a peça, tem que ter um vendedor para "mimá-lo"), então isso será profundamente desinchado. Os trabalhadores nesse setor devem ser imediatamente transferidos para o setor de pesquisa científica, e desenvolvimento de tecnologia, a ser gratuitamente disponibilizado para todas as empresas nacionais. continuar lendo